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CENSURA DE LIVROS: muito trabalho pela frente

A censura dos livros e, consequentemente, a proibição a determinadas leituras ocorre há muitos anos e nos diversos continentes desse nosso mundo. Penso que é um movimento igual às enchentes da maré, ora estamos na maré-alta ora estamos na minguante. Isso nunca se esgota. A sociedade se compõe de fluxo e refluxo de ideias num movimento salutar, mas não é salutar a imposição de um pensamento único. Eu sonho e desejo um mundo plural.

Você deve estar perguntando – onde quero chegar? Respondo: nos fazeres cotidianos da pessoa bibliotecária! Na necessidade de uma postura bibliotecária crítica perante a censura de livros.

Que mapa de navegação decido usar na biblioteca? Que rumo devo tomar? Enfrentar ou fugir das polêmicas e da falta de lucidez de uma parcela da população brasileira que hoje reivindica a não frequência dos filhos nas universidades?

Sinto informar, mas estamos em tempos de maré-alta e ela pode trazer uma inundação que atropela emoção-razão sem nos dar tempo de propor soluções, pois nos pega de surpresa. Nos distancia da minguante que nos tranquiliza e nos possibilita avaliar nossas ações.

Nos últimos dias a maré subiu, então é melhor nos apressarmos.

Se até o livro O menino maluquinho tão singelo os adultos de olhar estrábico querem proibir, pois tem a palavra transa; palavra que em 1970 também significava brincar, curtir. Se o livro Meninas sonhadoras, mulheres cientistas escrito pela juíza Flávia Martins de Carvalho é recolhido das escolas. Quais as chances de nos tornamos mais sensíveis. Nessa toada questiono: onde vamos chegar?

As pesquisas a respeito da história da leitura no Brasil denunciam obras que foram banidas nas escolas e apontam o prejuízo social e cultural e condenam uma atitude tão retrograda que é a censura. Um exemplo recente é o livro Literatura infantil e juvenil na fogueira que foi organizado por João Luís Ceccantini, Eliane Galvão e Thiago Alves Valente e publicado pela Editora Aletria. É fundamental lê-lo.

São muitos os autores brasileiros e estrangeiros que são desqualificados por meio de discursos frágeis e equivocados. A seguir cito apenas alguns que foram ou estão sendo boicotados. Para que seja possível compreender as interpretações distorcidas de gentes (educadores e pais) e agentes políticos, coloquei entre parênteses os “conteúdos problemáticos” que, em geral, são apontados. Como dito, a censura aos livros é antiga, mas a partir de 2017 o ritmo da perseguição acelera: Por exemplo, José Mauro Brant – Enquanto o sono não vem (incesto);  Ana Maria Machado – O menino que espiava para dentro (suicídio); Luiz Puntel – Menino sem pátria (ditadura militar); Lygia Bojunga Nunes – A bolsa amarela (ideologia de gênero) e Ziraldo – O Menino marrom  (ensina maldade).

Por estarmos na maré-alta, convoco as pessoas bibliotecárias a reagirem. Se necessário vestir equipamentos de mergulho e ir em frente, pois só há uma saída – “nadar contra a maré”. Em outras palavras: é necessário nos “armarmos” de argumentos e nadarmos no sentido oposto. Fique atento quanto à dimensão do seu trabalho e ocupe os espaços que puder.

Muita energia e sabedoria no exercício da profissão. Mediação sem censura!

Sueli Bortolin (UEL Safra 1981)

(bibliotecária por opção e por amor)